sexta-feira, 22 de junho de 2012

Glicocorticoides

Os glicocorticóides são definidos como agentes esteroides possuindo ação antiinflamatória e imunossupressora, que podem ser utilizados em inúmeras doenças na prática médica diária.
O glicocorticoide em seres humanos é o cortisol, o qual é usado como referência padrão. Os maiores níveis ocorrem durante o sono antes de acordar, e os menores níveis à noite, antes do inicio do sono.
O cortisol é secretado intermitentemente através do dia por períodos que duram somente uns poucos minutos. Entre estes pulsos de secreção, o córtex adrenal pode não secretar qualquer cortisol por minuto a horas. A maior parte do cortisol (75%) é transportada no sangue por uma globulina ligadora do cortisl (CBG); 15% é ligado à albumina e os restantes 10% são de cortisol livre.
Algumas situações como a gravidez, uso de pílula anticoncepcional ou tratamento com estrógeno estimulam a produção de CBG pelo fígado, resultando em altas concentrações plasmáticas de cortisol sem hipercorticalismo funcional.
O cortisol é metabolizado no fígado, sendo que apenas 1% do cortisol é excretado na urina na forma ativa.
Através da introdução de um grupo metila, hidroxila, ou flúor na posição 9 alfa da cortisona pode-se produzir por meios sintéticos corticoides com diferentes potências anti-inflamatórias e retentoras de sódio.
Devido ao maior uso do corticoide pra doenças, foi conveniente produzir corticosteroides com grande potência anti-inflamatória e menor atividade mineralocorticoide.


Principais efeitos do corticoide: 

Metabolismo dos carboidratos: Os corticosteroides produzem uma tendência à huperglicemia principalmente devido ao aumento da gliconeogênese hepática e antagonismo periférico à ação da insulina resultando no músculo e tecido gorduroso.
Classicamente os glicocorticoides podem induzir o aparecimento de diabetes, que é considerado moderado, estável, usualmente sem cetose, relacionado com a dose e a duração da administração. O diabetes na maioria das vezes é reversível com a parada da administração do corticoide, embora os indivíduos com predisposição genética possam permanecer diabéticos.
Metabolismo protéico: O corticoide produz redução da massa muscular por inibição da síntese protéica e aumento do catabolismo com balanço nitrogenado negativo.
Metabolismo lipídico: Terapêutica com altas doses de corticoide podem provocar aumento de VLDL e LDL.
Efeitos no crescimento: Crianças que recebem excesso de corticosteroide exibem atraso no crescimento. Isto ocorre por efeito direto no esqueleto, diminuição da absorção de cálcio no intestino e efeito antianabólico e catabólico nas proteínas dos tecidos periféricos. Além disso, os corticoides interferem com a secreção de GH e podem antagonizar diretamente algumas de suas ações periféricas.
Efeito no metabolismo da água: Os corticosteroides promovem aumento da reabsorção de sódio e excreção de potássio pelo rim. Altas doses por tempo prolongado podem produzir alcalose metabólica hipocalêmica. Aumentam o “clearance” de água livre devido a um efeito direto no túbulo renal e a um aumento da taca de filtração glomerular. Os corticoides podem também inibir a secreção de hormônio antidiurético (ADH), mas não se sabe se diretamente ou por algum mecanismo indireto.
Efeito no metabolismo de Cálcio: Os corticosteroides são potentes agentes antiinflamatórios e isto se deve principalmente ao efeito de estabilização na membrana do lisossomo, inibição da formação de cininas que causam vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e dor (as cininas tem origem a partir do cininogênio por ação da enzima calicreína.), os corticoides parecem atuar inibindo a calicreína, inibem a proliferação de fibroblastos e reduzem a produção de colágeno.
Efeito corticoide no Eixo hipotálamo – pituitária- Adrenal (HPA): A duração da inibição do eixo HPA depende da preparação do esteroide usado, da dose administrada, do tempo de ingestão e se o corticoide é dado em uma ou duas doses diárias.
Há uma correlação direta entre a potência anti-inflamatória e o grau de inibição produzido pelo esteroide. Neste sentido, o poder de inibição do eixo HPA segua a sequencia: Dexametasona > prednisona > hidrocortisona.
A administração de doses terapêuticas de glicocorticoides leva à atrofia adrenocortical dentro de uma semana. A dose supressora do ACTH é qualquer dose maior do que a quantidade de secreção diária normal de cortial (30 mg/dia) que é o equivalente a 7,5 mg de prednisona. Se esta dose de corticoide é dada VO ou EV, a supressão do ACTH dura somente algumas horas porque o cortisol é rapidamente metabolizado. Se no entanto esta mesma dose é feita intra-articular e ocorre liberação lenta do hormônio, a supressão pode durar muitos dias.
A supressão do eixo HPA é maior quando além da dose da manhã o paciente fez uso de uma dosa à noite, que exerce ação supressora do ACTH. Com doses menores do que 7,5mg de prednisona/dia a grande maioria dos pacientes mantém o eixo HPA responsivo.