É notório a revolução no
contexto da saúde pública no que se refere a antibioticoterapia, o que foi
responsável por gerar redução drástica na mortalidade causada por doenças microbianas
(RANG et al.; 2001). Em contrapartida, a utilização de forma inapropriada e sua
disseminação vem gerando resistência dos microrganismos. A resistência das
bactérias em relação a medicamentos antimicrobianos e quimioterápicos traz
consigo uma implicação no que se refere a limitação no tratamento de infecções,
o que representa uma ameaça a saúde pública.
A resistência bacteriana
é uma manifestação natural regida pelo princípio evolutivo da adaptação
genética de organismos as mudanças ocorridas no ambiente. Como o tempo de
duplicação bacteriana é pequeno, é possível obter várias gerações em pouco
tempo, e isso também permite adaptação evolutiva dos microrganismos.
Naturalmente que essa capacidade de mutação é extremamente baixa, de forma que
a probabilidade é de que uma célula a cada 10 milhões será capaz de produzir
uma filha mutante em determinado gene. No entanto, numa infecção esse número de bactérias é muito grande o que aumenta a probabilidade de uma mutação produzir
reversão da sensibilidade e resistência a determinados fármacos pode ser muito
alta em algumas espécies de bactérias (RANG et al.; 2001). Então, apesar do
número pequeno de agentes modificados não serem capazes por si só de produzirem
resistência, em casos de uma infecção composta por um população resistente e
parte não resistente, o uso inadequado do antibiótico permitirá ao patógeno a
sobrevivência e proliferação.
Existem diferentes
mecanismos que levam a resistência de microrganismos:
Bactérias gram-positivas:
·Destruição do antibiótico através de enzimas
que catalisam a degradação do antibiótico ou modificam os grupos funcionais
farmacologicamente ativos da estrutura, causando inativação e impossibilidade
de reconhecimento molecular (resistência a dalfopristina e penicilinas) -;
·Efluxo contínuo do antibiótico mediante genes
mutantes capazes de super expressarem proteínas transportadoras de membrana,
estas são responsáveis pela entrada e saída de substâncias no meio
citoplasmático, esta mutação permite que o antibiótico tenha fluxo mais rápido
para o meio extracelular e em maior quantidade que a sua difusão pela membrana
bacteriana, gerando concentração insuficiente para agir como bloqueador de
funções celulares (resistência a tetraciclinas e fluoroquinolonas);
· Reprogramação ou modificação na estrutura-alvo,
por exemplo, agem nos ribossomos, proteínas e constituintes da parede celular, que
através de modificações estruturais a partir de genes que os expressam, afetam
o reconhecimento do fármaco pelo alvo e diminuem a potência do fármaco (resistência
à eritromicina e vancomicina).
Através destes
mecanismos, quer seja usando um ou a combinação deles, as cepas de bactérias
vêm debelando a potência de vários antibióticos e até dos mais novos fármacos
criados, independente da geração pertencentes. Para tentar contra atacar essa
resistência, existem várias estratégias que permeiam o meio científico, em que
são estudados os processos da ação de antibióticos e o surgimento da resistência,
o planejamento para obtenção de novos fármacos mais potentes, bem como sua síntese
e avaliação, para posterior aplicação terapêutica de forma racional, e por fim
a adoção de normas tanto para controle dos órgãos fiscalizadores desde a
população exposta como em ambiente hospitalar, criando ações que possam ser
interligadas e contínuas, mediante suas aplicações e respostas.
Uma das estratégias mais
interessantes na síntese é o caso da vancomicina e outros antibióticos
glicopeptídicos, que hoje apresenta vários estudos em andamento, que apresentam o objetivo de obtenção de novas substâncias que apresentem afinidade pela porção
terminal D-Ala-D-Ala e modificada D-Ala-D-Lac, em bactérias susceptíveis e
resistentes ao antibiótico vancomicina. Através de estratégias como essa, hoje
já existem uma variedade enorme de produtos que apresentam alta afinidade pelo
modelo proteoglicano, sendo essas classes obtidas de produtos naturais,
sintéticos e semissintéticos. Duas substância muito promissoras e que já são
encontradas no mercado são a Ramoplanina e a daptomicina, que são representantes
da grande classe dos macrociclos peptídicos naturais, que possuem alta
atividade contra VRE e VRSA.
Em caso de curiosidade e
conhecimento a mais:
Mecacnismo de ação:
The mechanism of
action of ramoplanin and enduracidin: LINK
Obtenção do produto:
Ramoplanin: LINK
Daptomycin: LINK
Referência principal: Rang, H. P.; Dale, M. M.; Ritter, J. M.; Farmacologia, 4a
ed., Guanabara
Koogan S.A.: Rio de Janeiro, 2001.