quarta-feira, 9 de maio de 2012

Identificação de substância que causa degradação em Cloridrato de Doxorrubicina

Os experimentos utilizaram o antineoplásico Cloridrato de Doxorrubicina, empregado no tratamento do câncer

Um medicamento, mesmo dentro do prazo de validade, pode formar produtos de degradação tóxicos para os seres humanos. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, pesquisadores desenvolvem métodos para identificar e quantificar os produtos de degradação, assim como os fatores que contribuem com seu processo de formação. Com esses estudos, as indústrias poderão fazer modificações na composição, embalagem e transporte dos medicamentos para evitar o aparecimento de compostos nocivos à saúde.



Os experimentos utilizaram o antineoplásico Cloridrato de Doxorrubicina, empregado no tratamento do câncer. “Como o fármaco é injetável, caso haja qualquer produto de degradação, este estará 100% biodisponível na circulação do paciente”, conta a pesquisadora Mariah Ultramari, que realizou os testes. “O medicamento foi exposto à luz e ao calor, submetido à hidrólise ácida e básica e a processos de oxidação, para verificar quais os possíveis produtos que podem se formar durante sua vida útil”.

A pesquisa já identificou quatro possíveis produtos de degradação presentes no medicamento. “Até o momento foram realizados testes qualitativos, sem medir as quantidades de cada produto”, diz Mariah. “Também é preciso realizar avaliações específicas de toxicidade”. Quanto aos fatores que levam a degradação, foram identificados preliminarmente a ação da luz, o meio básico (pH superior a 7) e o oxidativo”.

Uma vez identificadas as vias da formação dos produtos de degradação, é possível fazer modificações nos medicamentos. “Um fármaco muito sensível a luz pode ter sua embalagem trocada por um modelo menos transparente, ou no caso de um comprimido, por exemplo, pode ter seu revestimento alterado”, diz a pesquisadora. “Se há problemas de oxidação, um antioxidante pode ser incluído como excipiente, ou seja, toda substância que faz parte do medicamento sem ser seu princípio ativo”, ressalta o professor Ernani Pinto, da FCF, que coordena a pesquisa.

Testes
“Todo medicamento sofre degradação, por isso sempre é estipulado um prazo de validade pelas indústrias farmacêuticas. Ao longo desse período, alguns fármacos formam produtos de degradação que podem ser tóxicos e comprometer sua segurança”, aponta o professor. Fatores como transporte e armazenamento podem favorecer a degradação. “No exterior, há algum tempo, já são exigidos estes testes para identificar esses produtos. No Brasil, este tema é muito recente e ainda não foi publicada uma regulamentação específica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que está em fase de elaboração, sem data para ser divulgada”.

A pesquisa com o Cloridrato de Doxorrubicina, que faz parte do doutorado de Mariah, irá detalhar a identificação e quantificação dos produtos de degradação mais importantes do fármaco. Os estudos de degradação forçada (também chamados de estudos de estresse) servirão para desenvolver um método indicativo de estabilidade que servirá especificamente para encontrar produtos de degradação em medicamentos.

“Atualmente, todas as indústrias realizam estudos de estabilidade para estipular o prazo de validade de seus medicamentos”, conta a pesquisadora. ”O método seria aplicado em amostras originárias desses estudos, para descobrir se há produtos de degradação, em que quantidade se encontram e se estão dentro dos limites a serem estabelecidos pela Anvisa”. Conforme a dosagem, a presença dos produtos deverá ser notificada (em caso de baixas concentrações), suas moléculas ativas identificadas (concentrações médias) e a toxicidade demonstrada (concentrações mais altas dosagens).

De acordo com o professor da FCF, embora a Anvisa ainda não tenha publicado nenhuma resolução específica sobre produtos de degradação, ela já exige testes para novos medicamentos, como forma de preparar as indústrias para a aplicação da norma. “Este é um grande desafio para os fabricantes nacionais, pois a identificação exige equipamentos sofisticados, de custo elevado, que só existem na academia”, afirma. “Por isso, as empresas tem procurado as universidades para desenvolver essa metodologia”.

Fonte: www.cfmv.org.br